sexta-feira, 1 de julho de 2011

Pistilo



Uma pergunta um tanto primária: O que é contemporâneo? Primária e anterior à obra. E na medida em que essa palavra é empregada a uma coisa-obra ela passa a ressoar de um modo diferente. O que é contemporâneo? Uma resposta é imediata para esta pergunta é o Contemporâneo enquanto adjetivo.

Se formos um pouco além do imediato? Se olharmos o Contemporâneo pela etimologia da palavra. Com= junto; temporário = tempo. Junto ao seu tempo. Daí as coisas mudam um pouco. Contemporâneo é aquilo que está conectado ao seu tempo. E se nos perguntamos como é estar próximo do nosso tempo? Como falar com o nosso tempo? E quando falamos com quem nos comunicamos?

Agora sugiro um desvio. Vamos desviar nosso olhar para um espetáculo de dança. Dança contemporânea: Pistilo. O espetáculo esteve em cartas durante o mês de junho em dois espaços bem diferentes. O primeiro foi na galeria olido, o segundo na casa das rosas. Dois espaços totalmente bem diferentes. O espetáculo tinha como proposta estética a fronteira entre dança e artes plásticas e como tema o “homoerotismo” Eu diria que vai que vai muito além de um espetáculo com a temática “homoerótica”. Pistilo é um projeto transdisciplinar. É um projeto por que a encenação é um desdobramento de algo com dimensões investigativas que vai além das possibilidades poéticas. Transdisciplinar por que passa entre, além e através das disciplinas, numa busca de compreensão da complexidade do tema do projeto, que é o Homoerotismo.

Sugiro desviar novamente e retornar para a discussão sobre o contemporâneo. Agora nos detendo um pouco mais na idéia de tempo. E agora sem uma investigação no conceito, mas na experiência do tempo. Abordar a idéia de “tempo” pela experiência e não pela possibilidade de atribuir um conceito às vezes torna a investigação mais interessante que meramente tentar organizar e atribuir um significado. Além disso, o tempo esta atrelado a experiência, ou não?

A experiência do tempo na modernidade é a do tempo linear, progressivo, cumulativo. Do tempo que passa pelo passado, presente desembocando no futuro. Mas essa experiência temporal que assim dita pode parecer inflexível, na experiência é muito mais porosa e flexível. Tanto que há bem pouco tempo, uma galera percebeu que a idéia de um tempo inflexível não cabe mais para falar sobre o nosso tempo. O tempo, com os pos modernos deixou de ser o tempo linear, progressivo e cumulativo e passou a ser uma infinidade de tempos que se atravessam, desde então se entende o tempo como Multitemporal. E o espaço também mudou, Pq tempo e espaço existem rigorosamente juntos. Por fim, a narrativa também ganhou outras possibilidades. Fragmentação, disjunção... É uma das possibilidades. E a subjetividade também ganhou outras cores, formas, nuances... Daí, você pensar que ao articular isso tudo necessita de outra postura do espectador é um passo.

Se estiver junto ao seu tempo configura-se em articular esses procedimentos cenicamente, então Pistilo é rigorosamente um espetáculo contemporâneo.

O espetáculo agencia uma série de informações simbólicas a avenida paulista, quanto a temática, quanto com quem o espetáculo comunica. Essas coisas todas criam um lugar aberto, mais que a comunicação, a troca de informações, cria um terreno fértil de reconhecimento que eu quase não vejo na dança. A uma relação direta entre bailarinos e pessoas que assistem. Um terreno fértil de e para discussões sobre desejo que é ao mesmo tempo vigoroso e delicado. Os corpos dançam e suas danças nem sempre é cadente, linear, sutil. É brusco e quase sempre está no limite com a violência. Penso no Freud. Pq será que a gente sempre pensamos no Freud nessas horas?

Se bem que a ocupação da casa das rosas, nem foi tão incrível assim! Varias vezes tive a impressão que a ocupação ali era muito pobre, rasa, que eles tiveram poucos ensaios ali, mas eu fui no ultimo dia da apresentação.

Será que nos outros dois dias o bailarino caiu em cima do publico? Será que nos outros dias o publico foi largado de pé por 50 minutos? Será que eles não pensaram em nenhum momento que ao não determinar o lugar do publico este poderia ir pra qualquer lugar? E atrapalhar passagem, ficar na frente do projetor sentar no chão? Será?

Mais informação sobre o projeto e futuras apresentação acompanhe no blog: http://pistilodanca.wordpress.com/

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