terça-feira, 21 de dezembro de 2010
O meu drama não se realiza mais blá blá blá e mais além
Cada pessoa do público recebe uma chave num cordão vermelho (que serve de ingresso), ainda na frente do teatro Sacolão das artes no Parque Santo Antônio - sacolão hortifrutigranjeiro desativado que é sede da Brava Cia. Somos convidados por uma atriz com peruca loira [ figura exótica típica do teatro contemporâneo ] a dar uma volta pelo quarteirão: "Se tá comigo cola, mas bem juntinho - que isso aqui não é teatro de destaque, não quero destaque. Quem saiu de casa achando que ia sentar a bunda no teatro pra ver uma pecinha tá muito enganado". Paramos no portão do estacionamento de uma delegacia, a atriz pede ajuda do público pra colar um cartaz com uma frase de efeito que incita à revolução, uns policiais olham desconfiados. Outros cartazes são colados no trajeto.
Voltamos pro teatro, os três atores se acomodam num cenário apartamento-gaiola pós apocalipse - QG/Aparelho onde covardemente escondidos eles planejam impotentes a revolução. Tudo bastante metafórico. Eles se dirigem uns aos outros pelos seus nomes reais fora de cena: Marcelo, Mariana e Patrícia. Não chega a se formar um conflito, nem historinha, nem personagens. Os três estão ali organizando um discurso a eles comum de forma cênica e poética, usando seus depoimentos pessoais e os textos do Heiner Muller.
O título "QUEM NÃO SABE MAIS QUEM É, O QUE É E ONDE ESTÁ PRECISA SE MEXER" parece se referir a uma geração específica, em seu contexto socio-político de utopias, sua desilusão e acomodação posteriores; também a qualquer cidadão diante da dificuldade de se reconhecer como parte-agente integrada a determinada classe social; também como denúncia à alienação; também ao próprio drama teatral que não se realiza mais. E talvez seja um espetáculo importante na medida em que nos provoca a reflexão sobre a necessidade do novo, da investigação de novos lugares possíveis.
PS -
QUEM: Um senhor sentado na mesma fileira que eu
O QUE: estava bastante entediado durante o espetáculo, mas assistiu até o fim
ONDE ESTÁ: no parque Santo Antônio, ele é morador da região
PRECISA SE MEXER?: O fomento (entre outras iniciativas, como o trabalho de resistência da Brava Cia) permite(m) que existam espaços teatrais como este na periferia. Mas o trabalho de "formação de público" é sempre um desafio. O tédio e desinteresse do tal senhor reafirma o que está em cena, a impotência de todo um movimento politizado de teatro de grupo diante das ferramentas de democratização de acesso a cultura pelas quais lutam.
QUEM NÃO SABE MAIS QUEM É, O QUE É E ONDE ESTÁ PRECISA SE MEXER
Site da Cia São Jorge: http://www.ciasaojorge.com.br/quem.html
sábado, 18 de dezembro de 2010
Entre(intensões) e contenções: pequena mostra de dança contemporanea
O solo tem uma estranheza que é muito interessante. O espaço totalmente vazio, um desenho de luz que cria uma espécie de desvelamento revelando aos poucos as nuance, e as possibilidades que uma partitura de ação simples pode chegar na repetição até a exaustão.
O solo tem um movimento cíclico, uma bela canção que é repetida em volume progressivamente mais auto. Outra coisa que me agrada muito no solo é que o movimento, os gestos não são cadentes e harmônicos, mas também não são mecânicos. Toda a gestualidade está num lugar entre ação física e dança, e várias vezes é desconecto da musica o que potencializa a estranheza dos movimentos.
O que não é uma coisa incomum na dança contemporânea, né?
Pequena mostra de solos: http://www.salacrisantempo.com.br/home/
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Vozes Dissonantes
O espetáculo aborda expressões de filósofos, estetas, políticos, poetas, de figuras como Padre Antônio Vieira se manifestando contra a escravatura, passando por análise do papel de Tiradentes, manifestações de José Bonifácio, idéias de Milton Santos e outros que nos inspiram com sua coragem autoral a criação de novos rumos para uma sociedade ainda tão jovem e plena de futuro. Espetáculo otimista porque acredita na ação, e reflexivo porque vasculha nossos momentos libertários e as vozes que os promulgaram, sempre com vistas em proporcionar fortalecimento de atitudes responsáveis e de transformação.
2- A voz da critica oficial:A expressão corporal de D.S. é impressionante, cada vez mais impressionante, de tal modo ela se movimenta em “acrobacias” e expressões faciais, chamando a atenção de forma irônica/brincalhona para todos os períodos de nossa formação histórica, lembrando Gregório, Vieira, Castro Alves, o índio, o negro, chegando aos dias atuais. Diga-se que o espetáculo começa com uma leitura de João Cabral.
Em prodigiosos exercícios de contração/descontração, expressão facial, uso das mãos que impressionam mais que um Marcel Marceau, apontando o caminho que pode conduzir ao desespero do não ser pela impossibilidade de entregar-se àquilo que se poderia ser: o dia-a-dia corrido, sem espaço para o diálogo, o amor, a realização pessoal. (realise oficial)
Algumas (vozes) crítica dissonante:Ei, alguém precisa dizer a ela que as coisas mudaram, tipo: o cara que tá com a faixa agora só não repetiu “esqueçam o que eu escrevi” porque ele nunca escreveu nada, mas bem que poderia dizer: “esqueçam quem eu fui” .As novidades, Denise, não param por aí. Desculpa, mas eu tenho mais recados do século XXI, já que você insiste em ficar no século passado. Sua peça no máximo vai até Lamarca, né? Aí é fácil brincar de polícia e ladrão, o ladrão usava farda. Quero ver agora, que emboloaram o jogo e trocaram o figurino dos dois lados. ( revista Bacante)
Critica oficial diz:
Denise acredita nisto, que pela arte se pode chegar a uma compreensão dos nossos conflitos, sem atribuir a “forças ocultas” nossa impossibilidade humana de viver em plenitude.Nosso fracasso é a vitória da verdade sobre a não-verdade, do amor sobre a cólera, da união sobre a fragmentação.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Mary Stuart
Teatro essencial é aquele em que o ator é o autor e diretor e coreografo de si mesmo. Seu instrumento é o corpo. Com o corpo ele desenha o espaço com sua voz ele mostra o afeto do personagem e com o seu afeto, sua memória e sua intuição ele constrói a dramaturgia, ou seja, ele une a voz e o pensamento. Seus temas serão sempre da natureza humana, universais inadiáveis, daí, político. A intenção é que o publico saia do teatro revigorado em suas lutas por liberdade e amor afinal é para isso que estamos aqui. O performer essencial será sempre político não importa a ele nada que na finalidade não signifique: possibilidade de convite ao questionamento, reflexão, ação e transformação. (Denise Stoklos)
Mary Stuart, Conta de forma não linear os últimos dias da rainha Mary Stuart, que ficou presa por 40 anos e foi condenada à morte por sua prima Elizabeth.
A estrutura da peça a cria ponte com a história recente do Brasil explicitando o tema que provocou a montagem: Como o poder está presente e opera na vida do individuo.
Com uma precisão necessária para que possa acontecer e que me chamou muito atenção, a palavra o gesto a cadeira (que é o único objeto de cena) mais os recursos de luz e som são precisamente manipulados privilegiando o jogo e o envolvimento com o espectador. Outra coisa que é interessante na montagem é uso da metalinguagem que fortalece o jogo com o espectador.
Aliás, a reação que o espetáculo causa no espectador é algo que deve ser lembrado pq fazia tempo que não via o publico tão envolvido no espetáculo a ponto de reagir a determinadas cenas com aplausos quase catárticos.
Serviço:
Sexta e sábado, às 21h; domingo, às 20h - Ingressos: R$20,00 (retirada de ingressos: duas horas antes de cada sessão) - preço popular (retirada de apenas um ingresso por pessoa): todos os dias para 20% da lotação da sala (R$ 2,55) mediante a apresentação da Carteira de Baixa Renda e RG, conforme lei nº 11.357/93 - Espaço Cênico Ademar Guerra (200 lugares)