Teatro nunca termina quando acaba. O que acaba é o espetáculo o evento. Tem que fechar apagar a luz tem que ir pra casa e tal. Isso acaba, mas se terminar ai o efeito foi eventual. O que a gente busca não é o evento é a transformação social que a gente tem o dever de patrocinar. Teatro é movimento é praxistron não teatron não é lugar pra se ver é lugar pra se agir (...). Augusto Boal
Pronto pra mudar?
Há duas semanas, talvez mais. Com certeza mais de duas semanas separam o dia que assisti ao espetáculo até hoje quando decido registrar essa experiência.
O espetáculo é resultado de um esforço coletivo. Esforço coletivo que espelha um fazer teatral, Tanto na forma quanto no conteúdo. Um teatro que começa com um encontro e do encontro surge à vontade de investigar um tema que transborda numa investigação de interpretação e na criação dramatúrgica. E quando todo esse esforço coletivo na buscar por contar uma história resulta num amontoado de imagens e cenas desconexas a direção intervêm nesse material dando forma a esse discurso cênico.
Porém no momento em que o publico chega o processo acaba e o que se presentifica é uma troca com o espectador. O lugar do publico em pronto pra mudar é radical. Radical porque é esse lugar que o Boal fala, lugar onde a ação e a reflexão estão rigorosamente conectadas em um processo pra além do evento.
Havia uma mulher falando ao telefone. Na fila antes de entrar no teatro. Pouco tempo depois a mulher estava conversando com as pessoas na fila, falava do tempo, entregava cartões, anotava contato. Pela primeira vez naquela uma hora e meia de espetáculo a fronteira entre aquilo que convencionamos cena e aquilo que chamamos de real se perturbava. Quando o espetáculo começou eu estava diante de mais uma peça colaborativa-partindo-de-um-texto clássico.
Duas atrizes em cena revezavam a mesma personagem, manipulavam objetos, corpos em explosão de imagens. Eu pensava pecinha-colaborativa-partindo-de-um-texto- clássico até que de novo o limite entre cena e realidade é perturbado e dessa vez as coisas não voltam ao seu lugar. Um deslocamento é provocado, a atriz que conversou comigo na fila me convidou pra entrar no apartamento e me largou no palco. Ai não se estabelece só uma perturbação nos limites da cena as coisas se atravessam um apartamento habitado por uma mulher que cospe coelhos, uma corretora que quer alugar o apartamento e um público que até então estava no seu lugar protegido desloca para o palco e aos poucos vai virando personagem da loucura da mulher que cospe coelhinhos. Tudo aquilo se resignifica. Uma experiência potente e difícil de codificar se estabelece. Quando o espetáculo acaba algo pode ser reconhecido nas carinhas das pessoas que estavam no palco. Claro que o que aconteceu de um jeito diferente para cada pessoa, e em partes essa experiência pessoal pode ser comunicada e ate reconhecida no outro.
E uma pergunta fica ecoando: Quando você muda é pq tudo ao seu redor mudou e você teve que acompanhar essas mudanças? Ou você mudou e depois mudou tudo ao seu redor
Luis,
ResponderExcluirQual a peça ? Qual o texto clássico? E esse termo "pecinha-colaborativa-partindo-de-um-texto" não é puro preconceito? Uma tentativa simplista de enquadrar peças ignorando as particularidades que construíram o processo de criação e a estética do espetáculo?