sábado, 16 de outubro de 2010

Hell


   Não tenho preconceito com atores globais. Mas não falta quem os superestime quando vão vê-los de perto, no palco.
   "Hell" tem um ou outro momento cômico. Mas... A cena inicial, em que Bárbara Paz fumando sem parar prova milhões de vestidos, enquanto "esnoba" a platéia, narrando como leva uma vida luxuosa e infinitamente distante de sonhar o que é pertencer a classe média, fazer dívidas a prestação, trabalhar. Se a intenção da cena era ser engraçada, não funcionou (apesar da "generosidade" do público - pra não definir como burrice ou escapismo barato - a predisposição para rir com que as pessoas vão ao teatro). A atriz devia ter aprendido com a dama maior dos nossos palcos. Mas se a cena serve só para nos fazer penetrar nesse universo degradante consumista de frivolidades, baladas, álcool, sexo e drogas em que Hell vive - atinge até certo grau seu objetivo.
   A peça é uma narrativa seca, na maior parte do tempo distanciada, que sai da boca da protagonista, transpassada ali e aqui por algumas pequenas, repetitivas (como os cigarros que não saem de cena e o troca-troca de roupas), mas potentes ações. O jogo narrativa/ação é bem construído. Por se tratar quase de um monólogo, o abuso do blecaute (apesar da iluminação ser bem cuidada, criando o tempo todo um ambiente sombrio) e da música, torna as transições de cena um pouco cansativas.
   Belas e surpreendentemente poéticas são as cenas em que Hell e Andrea (Ricardo Tozzi) transam pela primeira vez; e a cena em que a rica menina narra para um michê com quem está transando o enredo da ópera La Traviata.
   O vazio e a descrença da personagem na vida, fazem com que ela desenvolva uma moral muito própria e oposta a tudo que os valores familiares e religiosos ensinam (até certo ponto, como disse esse crítico aqui).
   É curioso ouvir as idéias diferentes que a Bárbara Paz e o diretor Hector Babenco mostram ter sobre as motivações da montagem. Cá pra nós, a peça não parece ter sido motivada por grandes inquietações/necessidades de ninguém, mas tem lá seus méritos.



Espetáculo assistido dia 15/10/2010 na companhia do Henrique.


 Adaptação: Hector Babenco e Marco Antonio Braz
 Direção de Hector Babenco e Co-direção de Murilo Hauser
 Elenco: Barbara Paz e Ricardo Tozzi

 Teatro do SESI – São Paulo
 Avenida Paulista, 1313 – Metrô Trianon-Masp
 Temporada: 07/10 a 19/12/2010
 Quinta-feira a domingo - 20h
 Excepcionalmente, não haverá apresentações nos dias 21, 22 e 23/10
 Duração: 75 min
 Entrada: Quintas e sextas - Entrada franca
                 Sábados e domingos - R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia)

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