O surgimento e desenvolvimento do melodrama ocorrem dentro de um contexto de profundas e radicais transformações da sociedade francesa, ligadas à ideologia da burguesia que, no início do século XIX, afirma sua força oriunda da Revolução Francesa. Nesse quadro de tantas mudanças, cúmplice de uma teatralidade exagerada e do espetacular, termina por chancelar a ordem burguesa recentemente estabelecida. A estrutura do melodrama é simples: num plano “opõe personagens representativos de valores opostos: vício e virtude” e num outro “alterna momentos de extrema desolação e desespero com outros de serenidade ou de euforia, fazendo a mudança com espantosa velocidade” No final a virtude é recompensada e o Mal punido; a boa ordem confirma-se e é assim que deve permanecer para sempre.
"Helena pede perdão e é esbofeteada" conta a história de Helena e seu marido, Augusto, que têm a casa invadida pela dupla Mary e Jack. Os invasores posteriormente se revelam ativistas políticos e convencem o casal a fazer parte de suas ações pseudo-terroristas. Durante as ações extremistas do grupo, Helena é deixada para trás e é expulsa algumas vezes, mas sempre consegue voltar. A atuação do quarteto fracassa completamente, causando o seu rompimento e a troca entre os casais. Helena se aproxima de Jack, de quem tem um filho, e Mary vai embora junto com Augusto, em busca do ex-chefe dele.
No caso específico da telenovela brasileira, embora a estrutura seja mais complexa e as personagens tenham um maior aprofundamento psicológico, nela também estão presentes os mesmos elementos básicos do melodrama: a oposição Bem/Mal, momentos de serenidade, alegria e felicidade alternando-se com outros de aflição, tristeza e desolação - os sentimentos positivos.
O melodrama, adota “uma peculiar linha de progressão, (...) se mantém aberto para incorporar sempre novos desdobramentos telenovela onde o distender da história é uma alternativa à disposição do autor, permitindo-lhe o sobrevir de novos episódios e peripécias, provocando no telespectador a suspeita de que falta muito ainda para acontecer, inquietação irritante para não dizer desesperadora, mas que instiga o seu interesse e o mantém preso diante do televisor.
A encenação do Tablado de Arruá Busca a sobreposição de linguagens, uma televisão instalada na rua permite um recorte de telenovela para o espetáculo. Transmite imagens (captadas ao vivo) apresenta pontos de vista simultâneos da cena que é vista ao vivo como detalhes da expressão dos atores. Para retratar o lado de fora da casa, são utilizados espaços do entorno, como bares, bancos, morros, lagos, na busca de um teatro de rua que lide também com a intervenção e com a utilização de espaços alternativos em geral.
Apoiada pela Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo e pelo prêmio Myriam Muniz, a peça integra o projeto Atentados, cuja pesquisa tem como base a busca por uma linguagem violenta e destrutiva, à altura do dia-a-dia atual numa metrópole como São Paulo e, sobretudo, à altura das ruas, onde a peça será apresentada: “Eu não acho que tenhamos de construir nada. Não é nossa obrigação construir uma compreensão, uma teoria sobre a sociedade atual. O dinheiro da Prefeitura não tem que ser usado de maneira construtiva. Tem uma cláusula na lei, a contrapartida social, que muitas vezes é tomada como um valor social que a obra teria. Às vezes se traduz isso em um sentido em que a obra deveria servir para as pessoas entenderem melhor a sociedade onde elas vivem, algo positivo."
HELENA PEDE PERDÃO E É ESBOFETEADA Reestreia dia 21 de outubro, quinta-feira, às 16h na Praça da Liberdade (atrás do metrô Liberdade). Dia 22 de outubro, sexta-feira, meia-noite, na Rua Vieira de Carvalho (esquina com Praça da República). Temporada - Sextas, na Praça da Liberdade, às 16h, sábados, meia noite, na Rua Vieira de Carvalho (esquina com Praça da República). Até 10 de dezembro. Duração – 60 minutos. Classificação Etária - 14 anos. Telefone para informações: (11) 7363 6226.
Caro Henrique, adorei a forma de postagem das "charlatanices críticas". Faço parte do Tablado de Arruar e garanto que conferem com nossa pesquisa todas as informações e citações referentes ao melodrama. Gostaria muito de ter também sua opinião crítica sobre o "Helena...", tendo em vista que a análise está muito boa!
ResponderExcluirabçs, obrigado