sábado, 16 de outubro de 2010
PORQUE ALÉM DE RYCA, EU SOU DIABÓLICA.
I
“Vazio encontra sua expressão em toda forma de existência, na infinitude do Tempo e Espaço em oposição à finitude do indivíduo em ambos; no fugaz presente como a única forma de existência real; na dependência e relatividade de todas coisas; em constantemente se Tornar sem Ser; em continuamente desejar sem ser satisfeito; na longa batalha que constitui a história da vida, onde todo esforço é contrariado por dificuldades, até que a vitória seja conquistada. O Tempo e a transitoriedade de todas as coisas são apenas a forma sob a qual o desejo de viver — que, como coisa-em-si, é imperecível — revelou ao Tempo a futilidade de seus esforços; é o agente pelo qual, a todo o momento, todas as coisas em nossas mãos tornam-se nada e, portanto, perdem todo seu verdadeiro valor.”
(Shopenhauer: o vazio da existência)
II
Ao Cair da noite e quando escurece Paris muda de cor e sentidos... Estou num taxi que corre pela margem do Sena e abaixei o vidro para poder fumar.Num instante estarei sentada em algum lugar como Avenue, o Hotel Costes o Maison,Blanche , Nobu, Xu Tanja, no stresa, ou ainda no Plaza: vou jantar um folheado de carangueijo e, é claro um vinho suave, ou então não janto e bebo Cosmos, ou uma vodca pura, fumando um cigarro atrás do outro e dizendo " como vai" às pessoas...
III
Luz ascende. Um abajur, uma cadeira, uma mesa de madeira roupas jogadas no chão a atriz ascende um cigarro, troca de roupa , se olha, num espelho invisível, não gosta da roupa, deixa o cigarro no cinzeiro trocou de roupa de novo, fumou mais, se olhou no espelho. A música eletrônica francesa moderna para e a atriz fala. Fala um longo texto e a platéia vai ao delírio.
A fala basicamente é sobre como a personagem é rica, fútil, consumista, e como a platéia é pobre, feia e medíocre. E a platéia ri loucamente dessa velha piada tão explorada por personagens de humor da TV.
IV
Hipoteses critícas:
1- Sempre que houver cena no quarto da Hell a platéia vai rir. E vai rir não só quando ela disser qual a marca da sua roupa. Só de a atriz tocar no cabelo, ou tocar numa roupa a platéia louca pra ser chamada de pobre, burro, feio vai rir.
2- O Blecaute vai percorrer toda a encenação.
3- Toda a gestualidade que atriz construiu para a personagem parece ser inspirada nas poses de um ensaio de moda da revista Vogue
4- A encenação soa datada, falando de um lugar, de pessoas, que muito distante e desinteressante. Essa cena apesar de provocar o riso e a simpatia da grande maioria dos espectadores demarca a distancia que existe entre o universo rico Frances e o nosso – pobre feio e medíocre.
5- A peça fala de jovens que buscam nas drogas, no sexo e no consumismo a fuga para o vazio.
6- Esse vazio é exteriorizado em um palco quase nu na penumbra ou na escuridão total onde os personagem se movem. Interessante é a construção gestual que remete a pose de modelos em ensaios fotográficos da revista vogue.
7- Os únicos lugares em que a iluminação é forte são quando a personagem Hell vai consumir ou encontra algum cara que mexa realmente com ela. Ai um painel ilumina e são sempre cores fortes.
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