terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O meu drama não se realiza mais blá blá blá e mais além



Cada pessoa do público recebe uma chave num cordão vermelho (que serve de ingresso), ainda na frente do teatro Sacolão das artes no Parque Santo Antônio - sacolão hortifrutigranjeiro desativado que é sede da Brava Cia. Somos convidados por uma atriz com peruca loira [ figura exótica típica do teatro contemporâneo ] a dar uma volta pelo quarteirão: "Se tá comigo cola, mas bem juntinho - que isso aqui não é teatro de destaque, não quero destaque. Quem saiu de casa achando que ia sentar a bunda no teatro pra ver uma pecinha tá muito enganado". Paramos no portão do estacionamento de uma delegacia, a atriz pede ajuda do público pra colar um cartaz com uma frase de efeito que incita à revolução, uns policiais olham desconfiados. Outros cartazes são colados no trajeto.
Voltamos pro teatro, os três atores se acomodam num cenário apartamento-gaiola pós apocalipse - QG/Aparelho onde covardemente escondidos eles planejam impotentes a revolução. Tudo bastante metafórico. Eles se dirigem uns aos outros pelos seus nomes reais fora de cena: Marcelo, Mariana e Patrícia. Não chega a se formar um conflito, nem historinha, nem personagens. Os três estão ali organizando um discurso a eles comum de forma cênica e poética, usando seus depoimentos pessoais e os textos do Heiner Muller.
O título "QUEM NÃO SABE MAIS QUEM É, O QUE É E ONDE ESTÁ PRECISA SE MEXER" parece se referir a uma geração específica, em seu contexto socio-político de utopias, sua desilusão e acomodação posteriores; também a qualquer cidadão diante da dificuldade de se reconhecer como parte-agente integrada a determinada classe social; também como denúncia à alienação; também ao próprio drama teatral que não se realiza mais. E talvez seja um espetáculo importante na medida em que nos provoca a reflexão sobre a necessidade do novo, da investigação de novos lugares possíveis.

PS -
QUEM: Um senhor sentado na mesma fileira que eu
O QUE: estava bastante entediado durante o espetáculo, mas assistiu até o fim
ONDE ESTÁ: no parque Santo Antônio, ele é morador da região
PRECISA SE MEXER?: O fomento (entre outras iniciativas, como o trabalho de resistência da Brava Cia) permite(m) que existam espaços teatrais como este na periferia. Mas o trabalho de "formação de público" é sempre um desafio. O tédio e desinteresse do tal senhor reafirma o que está em cena, a impotência de todo um movimento politizado de teatro de grupo diante das ferramentas de democratização de acesso a cultura pelas quais lutam.

QUEM NÃO SABE MAIS QUEM É, O QUE É E ONDE ESTÁ PRECISA SE MEXER
Site da Cia São Jorge: http://www.ciasaojorge.com.br/quem.html

sábado, 18 de dezembro de 2010

Entre(intensões) e contenções: pequena mostra de dança contemporanea




A dança contemporânea não tem ainda resposta fechada para explicar quem “ela” realmente é, exatamente por estar acontecendo no hoje, no agora. Podemos identificar características que compõem obras de dança contemporânea como estrutura não linear, trabalhos não narrativos, multiplicidade de significados, discursos, temáticas, processos e produtos, invenção como reestruturação, referência ao passado, presença da ironia e da paródia, mudanças na configuração do tempo e do espaço, velocidade de criação e informação, uso da tecnologia, descontinuidade, fragmentação e multiplicação de imagens, rejeição a narrativa única, liberdade de criação, nova estrutura de pensamento, sentimento e comportamento artístico e social, entre outras.
Marcela Benvegnu

Toda essa pluralidade que a dança contemporânea levanta um desafio para um crítico charlatão como eu: Acessibilidade da dança contemporânea.Já que esta se constrói a partir de procedimentos plurais, muitas vezes esses procedimentos (como foi mencionado Marcela Benvegnu) muitas vezes não se conectam. Muitas vezes é organizada não para me dar a sensação tranqüilizadora de entendimento, mas sim, são articuladas como camadas que me causa uma experiência sensível por si só, mas também está construída a serviço de um tema.

Escolhi o segundo solo "Entre contenções" por razões afetivas:

O solo tem uma estranheza que é muito interessante. O espaço totalmente vazio, um desenho de luz que cria uma espécie de desvelamento revelando aos poucos as nuance, e as possibilidades que uma partitura de ação simples pode chegar na repetição até a exaustão.

O solo tem um movimento cíclico, uma bela canção que é repetida em volume progressivamente mais auto. Outra coisa que me agrada muito no solo é que o movimento, os gestos não são cadentes e harmônicos, mas também não são mecânicos. Toda a gestualidade está num lugar entre ação física e dança, e várias vezes é desconecto da musica o que potencializa a estranheza dos movimentos.

O que não é uma coisa incomum na dança contemporânea, né?

Pequena mostra de solos: http://www.salacrisantempo.com.br/home/

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Vozes Dissonantes


1 – A Voz oficial:

O espetáculo aborda expressões de filósofos, estetas, políticos, poetas, de figuras como Padre Antônio Vieira se manifestando contra a escravatura, passando por análise do papel de Tiradentes, manifestações de José Bonifácio, idéias de Milton Santos e outros que nos inspiram com sua coragem autoral a criação de novos rumos para uma sociedade ainda tão jovem e plena de futuro. Espetáculo otimista porque acredita na ação, e reflexivo porque vasculha nossos momentos libertários e as vozes que os promulgaram, sempre com vistas em proporcionar fortalecimento de atitudes responsáveis e de transformação.

2- A voz da critica oficial:

A expressão corporal de D.S. é impressionante, cada vez mais impressionante, de tal modo ela se movimenta em “acrobacias” e expressões faciais, chamando a atenção de forma irônica/brincalhona para todos os períodos de nossa formação histórica, lembrando Gregório, Vieira, Castro Alves, o índio, o negro, chegando aos dias atuais. Diga-se que o espetáculo começa com uma leitura de João Cabral.

Em prodigiosos exercícios de contração/descontração, expressão facial, uso das mãos que impressionam mais que um Marcel Marceau, apontando o caminho que pode conduzir ao desespero do não ser pela impossibilidade de entregar-se àquilo que se poderia ser: o dia-a-dia corrido, sem espaço para o diálogo, o amor, a realização pessoal. (realise oficial)

Algumas (vozes) crítica dissonante:

… e Denise Stoklos e o seu corpo. As arquiteturas em movimento. As partituras físicas. A respiração quântica. O gesto elipsoidal antuniano. Seu figurino pretinho básico. O cenário basiquíssimo, preto também, lógico. Sapatinho preto com saltinho. Denise Stoklos e as citações lugar-comum. O xaxado de trilha na parte que cita os Sertões. A luz em foco nela, na cela da prisão de Frei Betto e a mímica das grades. As vociferações contra o capitalismo. O bom mocismo esquerdista. Dom Hélder, Caio Prado, Milton Santos, Gilberto Freyre e, tipo, uma expressão no ar de: “galera eu li, tá?”

A temporada da Denise Stoklos no espaço cênico Ademar Guerra é marcada por alguns problemas de produção, que começa pelo fato do espetáculo não ter programa até a disposição da platéia que parece não em ter que ficar exprimida nas arquibancadas, nem em não ter uma visão privilegiada sentando nas arquibancadas laterais ou tendo uma pilastra bem no meio de uma das arquibancadas.
E a relação com o publico é algo bastante curiosa: O publico é (geralmente) muito carinhoso com a Denise Stoklos, estando sempre disponível para rir de uma expressão facial, ou de uma piada, ou dizer como ela é genial por conseguir fazer de um punhado de citações algo divertido. Teve uma hora que eu pensei: Seria muito mais divertido ir pra aula se meus prof usassem recursos da mímica e do teatro essencial pra apresentar e expor o pensando de um filosofo X . E o rapaz que sentou ao meu lado, que vibrava com cada nova citação, tentava adivinhar quem era o autor e quando acertava vibrava. Ou a mulher atras de mim que achava tudo genial!! Ou a estudante que sentou no chão e cochichava com sua amiga sobre a precisão técnica das ações, a genialidade com que a Denise Stoklos manipula a palavra criando texturas. Ou a primeira cena do espetaculo que é super cansativa ou a visão teatralzinha da ditadura militar, ou a ironia que ela faz com o Ex presidente Fernando henrique Cardoso e a sua famosa frase: "esqueçam o que eu disse"

Ei, alguém precisa dizer a ela que as coisas mudaram, tipo: o cara que tá com a faixa agora só não repetiu “esqueçam o que eu escrevi” porque ele nunca escreveu nada, mas bem que poderia dizer: “esqueçam quem eu fui” .As novidades, Denise, não param por aí. Desculpa, mas eu tenho mais recados do século XXI, já que você insiste em ficar no século passado. Sua peça no máximo vai até Lamarca, né? Aí é fácil brincar de polícia e ladrão, o ladrão usava farda. Quero ver agora, que emboloaram o jogo e trocaram o figurino dos dois lados. ( revista Bacante)

Critica oficial diz:

Denise acredita nisto, que pela arte se pode chegar a uma compreensão dos nossos conflitos, sem atribuir a “forças ocultas” nossa impossibilidade humana de viver em plenitude.Nosso fracasso é a vitória da verdade sobre a não-verdade, do amor sobre a cólera, da união sobre a fragmentação. Sua arte Poe o Brasil lado a lado com outros países, com a vantagem de apontar para a esperança, que renasce em cada um de nós, depois de revê-la. Por Marly de Oliveira - Junho de 2000

E pra terminar, a Denise começou a peça com um “Parabéns pro Brasil, nesse um de abril” e terminou com um “Parabéns pra você [dirigindo-se à platéia ou puxando as palmas pra ela mesma] parabéns pra você! Pra você!”. Tudo bem redondinho, que nem uma chave de ouro de um soneto decassílabo perfeito parnasiano.
(Revista bacante)

Mas uma coisa é fato: dissonante ou assonante (?) difícil não partilhar de uma espécie de comunhão com a Denise stoklos.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Mary Stuart

Teatro essencial é aquele em que o ator é o autor e diretor e coreografo de si mesmo. Seu instrumento é o corpo. Com o corpo ele desenha o espaço com sua voz ele mostra o afeto do personagem e com o seu afeto, sua memória e sua intuição ele constrói a dramaturgia, ou seja, ele une a voz e o pensamento. Seus temas serão sempre da natureza humana, universais inadiáveis, daí, político. A intenção é que o publico saia do teatro revigorado em suas lutas por liberdade e amor afinal é para isso que estamos aqui. O performer essencial será sempre político não importa a ele nada que na finalidade não signifique: possibilidade de convite ao questionamento, reflexão, ação e transformação. (Denise Stoklos)





Mary Stuart, Conta de forma não linear os últimos dias da rainha Mary Stuart, que ficou presa por 40 anos e foi condenada à morte por sua prima Elizabeth.
A estrutura da peça a cria ponte com a história recente do Brasil explicitando o tema que provocou a montagem: Como o poder está presente e opera na vida do individuo.

Com uma precisão necessária para que possa acontecer e que me chamou muito atenção, a palavra o gesto a cadeira (que é o único objeto de cena) mais os recursos de luz e som são precisamente manipulados privilegiando o jogo e o envolvimento com o espectador. Outra coisa que é interessante na montagem é uso da metalinguagem que fortalece o jogo com o espectador.

Aliás, a reação que o espetáculo causa no espectador é algo que deve ser lembrado pq fazia tempo que não via o publico tão envolvido no espetáculo a ponto de reagir a determinadas cenas com aplausos quase catárticos.

Serviço:
Sexta e sábado, às 21h; domingo, às 20h - Ingressos: R$20,00 (retirada de ingressos: duas horas antes de cada sessão) - preço popular (retirada de apenas um ingresso por pessoa): todos os dias para 20% da lotação da sala (R$ 2,55) mediante a apresentação da Carteira de Baixa Renda e RG, conforme lei nº 11.357/93 - Espaço Cênico Ademar Guerra (200 lugares)

domingo, 28 de novembro de 2010

O lugar de onde se vê Roberto Zucco


Teatro é uma palavra grega que significa: o lugar de onde se vê. Partindo dessa primeira afirmação etimológica início essa critica de Roberto Zucco levantando uma questão: O quanto o lugar onde eu escolho pra apresentar a minha peça influencia e interfere nas minhas escolhas estéticas?

O Satyros é bastante lembrando por sua ocupação e revitalização da praça rosoovelt e o coletivo de galochas é um coletivo formado por estudantes de artes Cênicas da USP.

Como esses dois lugares e experiências contaminam a cena?

Na montagem do Satyros a ocupação da sala de espetáculo foi construída de modo que houvesse cenas em vários lugares. Já na montagem da Cia de galochas as cenas saem do teatro e ocupa a praça do relógio em ambas as montagens têm uma coisa de trajetória que o público percorre. No Satyros o publico sentado numa arquibancada que é empurrada por atores e no coletivo de galochas você percorre um trajeto. Outro ponto comum nas duas montagens é um trabalho de ator que tá apontado, mas se dispersa no meio do espetáculo.

O coletivo de galocha radicaliza justamente no ponto em que o Satyros é convencional: na contaminação do texto pelo espaço, criando metáforas, símbolos, signos que vão do contemporâneo convencional (uso de vídeo, projeções, varias referencias estáticas na interpretação e de conceitos, nomes, palavras que são confusos e alvo de debates infinitos) E discutindo poeticamente questões que são inadiáveis no fazer teatral de ambos os coletivos fazendo assim com que o fazer teatral seja mais do que discutir sintomas de um momento histórico e passe a ser um dialogo, uma afronta ao momento este momento histórico.

domingo, 21 de novembro de 2010

Dizer e não pedir segredo


O espetáculo dizer e não pedir segredo da recém nascida Cia kunyn está em sintonia com a teatralidade paulistana, um processo colaborativo, uma dramaturgia que se constrói a partir de um tema que provoca um estudo que provoca cenas até chegar o momento em que a direção organiza esse material levantado pelos atores. Outra característica dessa teatralidade da qual nasce o Grupo Kunyn (e a peça) é a idéia de ator-jogador. Ator narrador. O interessante é que esse registro de interpretação evoca narrativa não pelo sentimentalismo, mas pelo jogo e pelas relações entre público e cena potencializando a força poética (e por que não dizer dramática!) e tornando pessoal e sincero o discurso.Tem também a idéia do espaço (a casa) não como cenário, mas como lugar reforçando o primeiro conceito que provocou o encontro e que permeou toda a construção do espetáculo.
Na encenação a escolha pela casa de um dos atores da Cia pontua a discussão sobre a relação público e privado, a relação com o espectador que acontece em vários níveis e contatos. Você é o tempo todo convidado a estar na cena, convidado a trocar experiências, de forma sutil. Aliás a sutileza é outro ponto marcante da encenação.
O projeto da Cia Kunyn  apesar de usar e abusar de procedimentos e até clichês do tal teatro colaborativo tem sua eficiência na    força    e na sinceridade de seu discurso .

ONDE: R. Bela Cintra, 619, apto. 72. QUANDO: 6ª e sáb., 21h. QUANTO: Grátis – reservar antes pelo tel. 8564-4248. A peça também é encenada para grupos fechados, em apartamentos próprios, por R$ 15 por pessoa. Até 4/12.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

PONTO FINAL DA ÚLTIMA CENA NA CENA PERIFÉRICA


Comentário do espetáculo PONTO FINAL DA ÚLTIMA CENA, coreografia da Cia. de Dança Borelli que trata do mal de Alzheimer

  Um casal sentado como numa pose de fotografia antiga de família. Aliás, o figurino e a música sugerem que aqueles são personagens da década de 40,50... Sei lá. Qualquer época mais romântica. Ele segura um vaso com um cacto e um balão e ela usa um chapéu vermelho. A mulher inicia uma viagem pela memória. As lembranças ou o próprio ato de lembrar é doloroso, difícil. Ele não se manifesta, pouco se move, mal parece ter ciência da presença da companheira - não é capaz de acessar o passado. O rompimento com a história pessoal traz a morte.

OBS: Antes assisti parte da apresentação de um grupo da região, o Saída de Emergência. Cujo elenco é juvenil, e as coreografias se resumem à exibição de técnica vazia e a uma dramaturgia inconsistente. O discurso colocado em cena não pertence aos bailarinos. Aliás, esse é um problema comum a muitos grupos  amadores (de teatro e de dança) né. Quando os intérpretes ainda estão buscando um domínio do instrumental técnico e não se apropriaram do processo de criação.
  Ahh! O espaço onde assisti essas apresentações se trata da Fábrica de criatividade ou Ninho Sansacroma e fica no Capão Redondo. É um daqueles pólos culturais periféricos que lutam pela formação de público. E esse é um evento intitulado SINERGIA EM DANÇA, segue a programação.

Dia 20 – Sábado
Dia Especial em Comemoração ao Dia da Consciência Negra
16h30 – Debate: Corpo Negro, Imagem e Memória
Convidados da Mesa:
Allan da Rosa – Poeta, Arte Educador, Capoerista e Criador das Edições Toró
Euller Alves – Dançarino, músico, Diretor de Cultura de Embu das Artes e Coordenador do Instituto Umoja.
Gal Martins – Dançarina, Atriz, Arte Educadora e Criadora e Diretora Artística da Cia Sansacroma
18h00 – Roda de Percussão e Danças Afro Brasileiras com Umoja
19h30 –Cia Sansacroma
Espetáculo: Solano em Rascunhos

21h00 – Cia de Diadema
Espetáculo: Crendices… Quem disse?
Dia 21 – Domingo
16h00 – Jam Session de Dança – A proposta é reunir todos os artistas que estiveram envolvidos durante a semana – Orientação: Adriana Coldebella
18h00 – Apresentação especial: Rascunhos Cia de Dança
18h15 – Debate: A importância da prática da Dança na Educação e Lançamento do Livro: Linguagem da Dança: Arte e Ensino de Isabel Marques.
Gal Martins 
Profª Ms. Rose Maria de Souza – Professora Universitária, Bailarina, Dança Educadora, Coordenadora do Projeto Dançando a Vida
Isabel Marques – Formada em Pedagogia pela USP, fez Mestrado em Dança no Laban Centre for Movement and Dance (Londres) e Doutorado na Faculdade de Educação da USP. É diretora da Caleidos Cia de Dança
19h30 – Cia Corpos Nômades
Espetáculo: Cena Corpos Nômades
20h30 – Cia Sansacroma
Espetáculo: Angu de Pagu
O Espaço Ninho Sansacroma esta situado à Rua Dr. Luis da Fonseca Galvão, 248  Parque Maria Helena, próximo ao metrô Terminal Capão Redondo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Este Lado Para Cima – Isso Não é um Espetáculo.



Isso não é uma critica:

Dialogando com o sub-titulo do espetaculo da brava decidi que essa critica não iria ser uma critica. Mas uma tentativa de organizar as minhas impressões e sensações vivenciadas nos 80 minutos de espetáculo

Este Lado Para Cima – Isso Não é um Espetáculo. A nova montagem da Brava Companhia apresentada na mostra de teatro do Engenho nos dias 13 e 14 de novembro de 2010.
Este Lado Para Cima – Isso Não é um Espetáculo:
O poder do mercado de consumo, o controle da vida pela mercadoria, as contradições nas relações de trabalho e o uso das estruturas autoritárias como ferramentas de alienação são trazidos à tona na peça.




Tudo está em movimento
É o movimento que gera ação e ação é vida!
Drama é uma palavra grega que significa ação
Tudo que é vivo produz drama!!
E tudo que é vivo necessariamente é contraditório
E tudo que é vivo tem história
Pra saber a história das coisas basta você procurar, investigar, descobrir
O movimento da história é ciclico
Voltando...
Impulso gera movimento que gera ação e ação é vida!
E a história tá ai pra dar sentido a esse movimento
Atribuir sentido as coisas é perigoso. O perigo é que a busca pelo sentido
Naturalize as coisas, reduzindo a contradição, o movimento e o impulso em uma sentença lingüística.
Um certo pensamento é vigente no ocidente: racional, causal, lógico ...
que age sobre nosso corpo e sobre nossa vida reduzindo as contradições, e os movimentos que geram ação e geram vida, naturalizando as coisas.
É preciso desvalorizar um pouco o que é dito
Demorar nas sensações
Valorizar os incômodos
Sobretudo aqueles que geram ação!!



Deixo pra vocês o gonzaguinha cantando uma musica que tenho a impressão dialogar com o espetáculo.



sábado, 13 de novembro de 2010

o contemporâneo não exige muito


   Quinta-feira à noite na famigerada Praça Roosevelt. O Satyros I praticamente lotado para a apresentação do espetáculo mais recente do grupo (que recebeu ótimas críticas): Roberto Zucco.
   A encenação é super contemporânea e traz o texto de um autor francês sobre um assassino italiano que matou pai e mãe, tudo num universo bem marginal - escolha coerente com o histórico do Satyros. Existe um tom expressionista, a inocência é uma impossibilidade, e o mal parece estar atrelado ao humano. O vazio e a necessidade/impossibilidade de dar sentido a existência parecem motivar todas as ações: os crimes de Zucco, a excitação do coro patético de transeuntes no parque, o desejo da Madame que flerta e tem o filho morto, a moça que se agarra à virgindade da irmã mais nova como tentativa de redenção... No entanto, a abordagem soa em muitos momentos superficial.
   Existe a proposta de uma relação mais estreita com o público*, que é acomodado em duas arquibancadas  que estão em frequente movimento entre as cenas. Se a intenção é atingir a sensibilidade do público (o organismo, o sistema nervoso, como tão bem descreveu e sonhou Artaud), eles deveriam se servir de todos os meios... Não só dessa proximidade, mobilidade, do uso do vídeo, da utilização de todo o espaço. Falta um trabalho mais sério de ator né. Mas se a intenção é reafirmar o grupo no lugar comum do contemporâneo, eles conseguem.

* (que o próprio espaço sugere e que foi investigada na última peça deles com a idéia de 'teatro expandido')

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Roberto Zucco








Personagens:
Constantino: Crítico de teatro
Tom: Jovem ator em formação que trabalha como garçom pra pagar seus estudos.
Ação: O encontro entre o jovem ator e o critico acontece no bar onde Tom trabalha após a apresentação de Roberto Zucco.



1º Constantino bebe um café enquanto lê em seu ipod os comentários feitos no twitter sobre o espetáculo:


Premissa filosófica para uma possível critica de @RobertoZucco:
1º O ceticismo Poe em duvida todas as crenças.Os céticos não tem crença alguma inclusive sobre o mundo moral. about 1 hour ago via web
2º É possível conhecer a realidade na sua totalidade?
about 1 hour ago via web
3º As redes sociais como outra possibilidade de divulgação, debate e outros encontros tanto com o grupo quanto com o espetaculo
41 minutes ago via web
Premissas Estéticas p/ 1 possível críticas de @RobertoZucco about 1 hour ago via web
1º Não é possível representar o real em sua totalidade, a realidade só pode ser apreendida em camadas, fragmentos...
about 1 hour ago via web
2º A forma do drama (aristotélico) não dá conta de representar todas as contradições, nuances, e tonalidades do real...
about 1 hour ago via web
Nem o real nem o individuo
about 1 hour ago via web
2. Qual a diferença entre condição humana e natureza humana? (interferência nas premissas filosóficas...) 30 minutes ago via web
Tipo, a maldade é parte da condição humana ou da natureza humana? Ehm Rousseau?
24 minutes ago via web

Constantino:

O espetaculo aponta para a uma fase madura do Satyros é comum ler criticas comentado sobre a inovação e a radicalidade de roberto Zucco, mas não se engane.. Não há nada de novo em Roberto Zucco.
Tom:
Não?

Constantino:
Talvez essa impressão seja causada porque com roberto zucco os satyros se conectou de vez ao seu tempo ( e a uma teatralidade que talvez podemos chamar "oficial" ou seja um teatro que estará nos livros de hist do teatro daqui a uns anos)Tempo em que o uso do audiovisual, das redes sociais , a mistura de linguagens no registro da interpretação caracteriza a teatralidade desse inicio de sec. Saindo de uma margilidade que sempre delimitou o trabalho do grupo.
Tom:
entendi .

Constantino:
A conta,por favor

Tom:
Já?
constantino:
Ta tarde.
Tom vai buscar a conta e volta com o programa do espetáculo
Constantino pega o programa olha o serviço da peça. dobra o programa guarda no bolso de seu casaco e vai embora. Tom segue-o com o olhar. Pega a chicara e tomado por uma curiosidade vai até a porta do bar ... observa Constantino entrar num taxi e ir embora. Entra no bar e lê o Cartas que diz:
Serviço:
  • Categoria: Peças
  • Gênero: Drama
  • Preço: de R$ 30,00 a R$ 40,00
  • Duração: 80 minutos
  • Direção: Rodolfo García Vázquez
  • Elenco: Robson Catalunha, Cléo De Páris, José Alessandro Sampaio e outros
  • Censura: 14 anos

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Não uma pessoa ou Lamentações de uma mulher-objeto



    A atriz, que é personagem de si mesma, expõe sua  fragilidade (tão bem escondida pela imagem de mulher fatal) ao seu psicanalista. A peça não tem pretensões biográficas, mas usa a vida de Marilyn Monroe para propor uma reflexão sensível sobre a coisificação do humano e a condição feminina.
   Um bom texto e uma relação orgânicamente bem construída entre cena e público. É, teatro ainda pode ser simples.


Não Uma Pessoa
De 6 de novembro a 19 de dezembro, aos sábados ás 21h e domingos às 20h
Miniteatro
Praça Franklin Roosevelt, 108 – Consolação
Informações 3255-0829
Ingressos custam R$ 20 com meia-entrada

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Guerra Cega Simplex- Feche os olhos e voe ou guerra malvada

Critica em 3 capítulos e algumas histórias.
5 minutos antes: um espectador desavisado, todas as horas do dia:
(com voz apreensiva)… Eu não devia estar aqui… Desculpem-me… Não fui capaz de entender… Desculpem-me…
2 minutos antes do inicio: Nem tudo vai ser compreensível, nem tudo vai ser entendível, e isso não tem a menor importância”
30 segundos antes do inicio:
HABITAÇÃO BRUTA/ZONA DE RISCO -DERIVA O Coletivo Bruto habita o Centro Cultural São Paulo nos meses de setembro, outubro e novembro de 2010. Essa Habitação Bruta parte da sala Ademar Guerra (esconderijo, aparelho, célula, sala de estar, residência) para os outros espaços do Centro Cultural (biblioteca, passagens, áreas de convivência, áreas técnicas, discoteca, área expositiva etc.) a fim de criar um fluxo/diálogo poético.Durante este período, ocorrerão ações de observação das dinâmicas do espaço, com seus freqüentadores, acervos e funcionários. Serão criados programas performativos e intervenções que reajam a estas dinâmicas e criem uma dramaturgia, refletindo a relação porão/CCSP – CCSP/cidade de São Paulo. O Centro Cultural São Paulo pode ser entendido como metáfora da cidade?As ferramentas teóricas usadas para as ações de observação crítica e criação são a idéia de deriva - percepção-concepção do espaço urbano como espaço a reconhecer pela experiência direta - e os princípios do programa- ações performativas calculadas que des-programam organismo e meio. As linguagens artísticas utilizadas nesta criação serão resultantes das necessidades formais do material, podendo aliar filosofia, dança, vídeo, teatro e artes visuais.
5 minutos depois do espetaculo: .

Segundo capitulo:

1º interferência: A analogia, que transita pela peça Guerra Cega Simplex – Feche os Olhos e Voe ou Guerra Malvada é entre a guerra e a cegueira. Todavia, em algum momento do espetáculo, projeta-se frase cujo conteúdo é próximo deste: ‘Nas tragédias clássicas, o herói caminhava cego rumo a seu destino trágico; hoje, no capitalismo, o homem caminha livre rumo a seu destino trágico’.
2º interferência:
Delírio pós dramático:





Serviço:
dias 29, 30 e 31/10 e 5, 6 e 7/11
sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h - Espaço Cênico Ademar Guerra (80 lugares) - Entrada franca (retirada de ingressos: duas horas antes de cada sessão)

Por uma crítica em zona de risco:
é possível sim refletir sobre teatro levando em conta que há muito a linearidade aristotélica (da forma teatral e da mercadoria) vem sendo corroída, negada, transformada e superada por experiências artísticas preocupadas em dar novas formas à nossa vida danificada.
Experiência artística. Como na utopia dos críticos de arte do romantismo (Novalis, os irmãos Schlegel) -, aproximam-se perigosamente da arte. Momentos em que a fronteira entre crítica e produção artística se rompe, quando a ironia é sutil, quando o humor é escrachado, quando a forma do texto reproduz a experiência estética sugerida pela forma da peça.
(...) Não é outra a definição que os românticos alemães davam ao que eles chamavam de ENSAIO, um gênero híbrido entre arte e filosofia, capaz de tatear o objeto artístico e iluminá-lo sob todos os ângulos, – de dentro de um olhar também ele artístico- , revelando suas contradições e situando os seus procedimentos formais em estrita relação com o mundo que os gera.
(Ivan Delmanto)

Interferência critica:
Gabriela: Eu dormi no meio da peça. Tava cansada, me alimentei mal e meu estômago tava ardendo. Daí dormi
Caio gracco: O espetaculo tem material poético e critico para mais de um espetaculo. Perdi metade do espetaculo pois a peça era demasiadamente longa!

domingo, 31 de outubro de 2010

Chuva Pasmada

O que o bob esponja tem a ver com esse blog, com o espetáculo?




A caixa idiota é nome desse episódio( que eu consegui baixar e postar aqui graças a um esforço e persistência quase cristã) Esse episódio eu sempre achei que é meio a síntese do que é teatro. Existe um espaço (que inclusive pode ser uma caixa) que você preenche com a imaginação, o jogo e a brincadeira.
Mas para dar certo é preciso acreditar na brincadeira e no jogo ,né?


A caixa mágica de "chuvinha pasmada" :
Espaço vazio conceito empregado por Peter Brook para designar, em termos visuais, a característica por ele eleita para definição do espaço cênico. É um espaço psicologicamente concentrado, recaindo a atenção do público no desempenho e intenções explícitas (ações determinadas) ou implícitas (secretas ânsias e vinganças) das personagens. É também, por outro lado, um espaço aberto, intemporal, não datado, onde tudo pode acontecer…
O ponto de partida é o vazio
Um cenário nu, a-histórico, sem referências explícitas. São os atores, usando a excelência do gesto, do olhar e sentindo o que as palavras designam, que criam o cenário
Desse espaço vazio onde a imaginação frui em gestos que viram imagens e palavras de imagens e imagens das palavras.
É desse espaço vazio que “chuva pasmada” espetáculo do grupo Matula de teatro parte.
Preenchendo espaços vazios, abrindo fendas poéticas de forma sensível e critica.






CHUVA PASMADA

SESC Pompeia
Dia(s) 22/10, 23/10, 24/10, 29/10, 30/10, 05/11, 06/11, 07/11, 12/11, 13/11, 14/11
Sextas e sábados, às 21h; domingos, às 18h

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Outros justos

Não consegui achar imagens do espetáculo, nem qualquer informação que fosse maior que esta resenha:
Em uma sala de aula imaginária, um velho professor tenta ministrar sua última aula em memória de seu melhor amigo, um intelectual que faleceu durante os anos do nazismo.

Na bilheteria da Casa das Rosas a mulher super simpática está contando ingressos quando eu, Sueli e Diego nos aproximamos. Ela entrega os ingressos com um sorriso e comenta que a peça não tem tido muita procura, mas toda apresentação duas três pessoas vão embora sem conseguir ingresso. Por quê? Descobrirei logo, logo. A casa das rosas é um espaço alternativo e cabem não mais que vinte pessoas.

Entramos numa salinha.Como não tenho informações sobre a peça olho atenciosamente o espaço, não há objetos cênicos que tenham sido trazidos pela encenação. O abajur, a mesa, o gravador, a cadeira são objetos da casa das rosas.
Também não há sinais, nem a moça ou o moço eletrônico que pede para desligar os celulares e não consumirem alimentos, nem tirar fotos ou gravar o espetáculo sem a autorização da produção. 10 minutos passam e um clima misterioso se instaura. 15 minutos depois um homem entra na sala. Não há nada nesse homem que indique que seja um ator, ele pára, olha pra platéia, olha o relógio longamente e sai da sala.
Pronto a peça começou.

Carlos Rahal criou uma partitura muito precisa de ações, a palavra dita, em cada silêncio pausa, e olhares o ator vai revelando um pouquinho mais do universo desse intelectual, e sua tentativa de falar sobre esse amigo que morreu durante a ditadura militar (e não o nazismo como diz a resenha).
Outro grande feito da encenação é suprimir o nome do amigo e tornar as informações ambíguas possibilitando que a encenação possa acessar o universo dessa última aula de maneira muito sensível e poética.
Outra boa escolha da encenação foi se apropriar do espaço da casa das rosas, o que dá maior veracidade ao espetáculo, já que a casa das rosas é um espaço dedicado a poesia moderna brasileira e onde inclusive acontecem palestras sobre intelectuais naquele mesmo espaço.


Os Outros Justos
Com: Carlos Rahal
Duração: 50 minutos
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos
Texto e direção: Celso Cruz

sábado, 23 de outubro de 2010

Dinheiro público a serviço de.


 Eu pergunto se a apresentação na Praça da República vai acontecer, mesmo com garoa, e uma atriz muito animada me responde que o grupo só cancela se chover forte.
  Os quatro atores se aproximam do coreto onde o público aguarda. Eles vêm cantando e empurrando uma carroça "... dar forma ao nada, tirar forma do tudo, não dizer nada, tentando dizer tudo".
  Então vai aparecendo em cena a família real portuguesa, D. Maria I, D. João VI, Carlota Joaquina e D. Pedro I. Todos uns bufões típicos de teatro popular. Uma sucessão de fatos históricos servem de mote para tiradas farsescas. 
  Recomendo o texto da Bacante sobre o espetáculo: http://www.bacante.com.br/critica/a-vinda-da-familia-real/
  O olhar crítico do grupo lançado ao passado com a intenção de questionar (e transformar) o presente, ainda que não esteja plenamente realizado em cena, fica evidente em alguns momentos. Como no cortejo pela praça em que D. João VI vai a frente dentro da carroça, discursando e fazendo promessas como candidato em campanha política.
  Soa um pouco ingênua a cena em que os atores fazem um jogo previsível onde as pessoas do público são convidadas a dizer como seria o novo mundo delas, e as respostas são: um lugar sem violência, uma terra de amor, tolerância... Poderia ter se aprofundado muito mais a exposição de contradições em cena.
  O espetáculo parece marcar o amadurecimento do grupo, que surgiu no Teatro Vocacional, possui sede na zona sul de São Paulo e montou "A vinda da família real" com dinheiro do Fomento. Assisti os dois espetáculos mais recentes da Cia. Humbalada: "O menino sem imaginação" e "O cidadão perfeito". É notável a verticalização de caminhos que já estavam apontados, como a boa apropriação do teatro de rua e aprofundamento no gênero cômico popular. É a primeira vez que o orientador/diretor Filipe Brancalião está em cena como ator, e que o ator Bruno César Lopes dirige a Cia.
  É exemplo de dinheiro público bem gasto.

A VINDA DA FAMÍLIA REAL
Direção: Bruno César Lopes
Elenco: Filipe Brancalião - Tatiana Monte - Thaís Oliveira - Vanessa Rosa
 Dias 19 e 20 de novembro, às 16h, na Praça da República.
Informações: 11 5661-6534 / humbalada@terra.com.br

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Helena pede perdão e é esbofeteada

O surgimento e desenvolvimento do melodrama ocorrem dentro de um contexto de profundas e radicais transformações da sociedade francesa, ligadas à ideologia da burguesia que, no início do século XIX, afirma sua força oriunda da Revolução Francesa. Nesse quadro de tantas mudanças, cúmplice de uma teatralidade exagerada e do espetacular, termina por chancelar a ordem burguesa recentemente estabelecida. A estrutura do melodrama é simples: num plano “opõe personagens representativos de valores opostos: vício e virtude” e num outro “alterna momentos de extrema desolação e desespero com outros de serenidade ou de euforia, fazendo a mudança com espantosa velocidade” No final a virtude é recompensada e o Mal punido; a boa ordem confirma-se e é assim que deve permanecer para sempre.
"Helena pede perdão e é esbofeteada" conta a história de Helena e seu marido, Augusto, que têm a casa invadida pela dupla Mary e Jack. Os invasores posteriormente se revelam ativistas políticos e convencem o casal a fazer parte de suas ações pseudo-terroristas. Durante as ações extremistas do grupo, Helena é deixada para trás e é expulsa algumas vezes, mas sempre consegue voltar. A atuação do quarteto fracassa completamente, causando o seu rompimento e a troca entre os casais. Helena se aproxima de Jack, de quem tem um filho, e Mary vai embora junto com Augusto, em busca do ex-chefe dele.



No caso específico da telenovela brasileira, embora a estrutura seja mais complexa e as personagens tenham um maior aprofundamento psicológico, nela também estão presentes os mesmos elementos básicos do melodrama: a oposição Bem/Mal, momentos de serenidade, alegria e felicidade alternando-se com outros de aflição, tristeza e desolação - os sentimentos positivos.



O melodrama, adota “uma peculiar linha de progressão, (...) se mantém aberto para incorporar sempre novos desdobramentos telenovela onde o distender da história é uma alternativa à disposição do autor, permitindo-lhe o sobrevir de novos episódios e peripécias, provocando no telespectador a suspeita de que falta muito ainda para acontecer, inquietação irritante para não dizer desesperadora, mas que instiga o seu interesse e o mantém preso diante do televisor.
A encenação do Tablado de Arruá Busca a sobreposição de linguagens, uma televisão instalada na rua permite um recorte de telenovela para o espetáculo. Transmite imagens (captadas ao vivo) apresenta pontos de vista simultâneos da cena que é vista ao vivo como detalhes da expressão dos atores. Para retratar o lado de fora da casa, são utilizados espaços do entorno, como bares, bancos, morros, lagos, na busca de um teatro de rua que lide também com a intervenção e com a utilização de espaços alternativos em geral.
Apoiada pela Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo e pelo prêmio Myriam Muniz, a peça integra o projeto Atentados, cuja pesquisa tem como base a busca por uma linguagem violenta e destrutiva, à altura do dia-a-dia atual numa metrópole como São Paulo e, sobretudo, à altura das ruas, onde a peça será apresentada: “Eu não acho que tenhamos de construir nada. Não é nossa obrigação construir uma compreensão, uma teoria sobre a sociedade atual. O dinheiro da Prefeitura não tem que ser usado de maneira construtiva. Tem uma cláusula na lei, a contrapartida social, que muitas vezes é tomada como um valor social que a obra teria. Às vezes se traduz isso em um sentido em que a obra deveria servir para as pessoas entenderem melhor a sociedade onde elas vivem, algo positivo."

HELENA PEDE PERDÃO E É ESBOFETEADA Reestreia dia 21 de outubro, quinta-feira, às 16h na Praça da Liberdade (atrás do metrô Liberdade). Dia 22 de outubro, sexta-feira, meia-noite, na Rua Vieira de Carvalho (esquina com Praça da República). Temporada - Sextas, na Praça da Liberdade, às 16h, sábados, meia noite, na Rua Vieira de Carvalho (esquina com Praça da República). Até 10 de dezembro. Duração – 60 minutos. Classificação Etária - 14 anos. Telefone para informações: (11) 7363 6226.

sábado, 16 de outubro de 2010

Hell


   Não tenho preconceito com atores globais. Mas não falta quem os superestime quando vão vê-los de perto, no palco.
   "Hell" tem um ou outro momento cômico. Mas... A cena inicial, em que Bárbara Paz fumando sem parar prova milhões de vestidos, enquanto "esnoba" a platéia, narrando como leva uma vida luxuosa e infinitamente distante de sonhar o que é pertencer a classe média, fazer dívidas a prestação, trabalhar. Se a intenção da cena era ser engraçada, não funcionou (apesar da "generosidade" do público - pra não definir como burrice ou escapismo barato - a predisposição para rir com que as pessoas vão ao teatro). A atriz devia ter aprendido com a dama maior dos nossos palcos. Mas se a cena serve só para nos fazer penetrar nesse universo degradante consumista de frivolidades, baladas, álcool, sexo e drogas em que Hell vive - atinge até certo grau seu objetivo.
   A peça é uma narrativa seca, na maior parte do tempo distanciada, que sai da boca da protagonista, transpassada ali e aqui por algumas pequenas, repetitivas (como os cigarros que não saem de cena e o troca-troca de roupas), mas potentes ações. O jogo narrativa/ação é bem construído. Por se tratar quase de um monólogo, o abuso do blecaute (apesar da iluminação ser bem cuidada, criando o tempo todo um ambiente sombrio) e da música, torna as transições de cena um pouco cansativas.
   Belas e surpreendentemente poéticas são as cenas em que Hell e Andrea (Ricardo Tozzi) transam pela primeira vez; e a cena em que a rica menina narra para um michê com quem está transando o enredo da ópera La Traviata.
   O vazio e a descrença da personagem na vida, fazem com que ela desenvolva uma moral muito própria e oposta a tudo que os valores familiares e religiosos ensinam (até certo ponto, como disse esse crítico aqui).
   É curioso ouvir as idéias diferentes que a Bárbara Paz e o diretor Hector Babenco mostram ter sobre as motivações da montagem. Cá pra nós, a peça não parece ter sido motivada por grandes inquietações/necessidades de ninguém, mas tem lá seus méritos.



Espetáculo assistido dia 15/10/2010 na companhia do Henrique.


 Adaptação: Hector Babenco e Marco Antonio Braz
 Direção de Hector Babenco e Co-direção de Murilo Hauser
 Elenco: Barbara Paz e Ricardo Tozzi

 Teatro do SESI – São Paulo
 Avenida Paulista, 1313 – Metrô Trianon-Masp
 Temporada: 07/10 a 19/12/2010
 Quinta-feira a domingo - 20h
 Excepcionalmente, não haverá apresentações nos dias 21, 22 e 23/10
 Duração: 75 min
 Entrada: Quintas e sextas - Entrada franca
                 Sábados e domingos - R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia)

PORQUE ALÉM DE RYCA, EU SOU DIABÓLICA.




I

“Vazio encontra sua expressão em toda forma de existência, na infinitude do Tempo e Espaço em oposição à finitude do indivíduo em ambos; no fugaz presente como a única forma de existência real; na dependência e relatividade de todas coisas; em constantemente se Tornar sem Ser; em continuamente desejar sem ser satisfeito; na longa batalha que constitui a história da vida, onde todo esforço é contrariado por dificuldades, até que a vitória seja conquistada. O Tempo e a transitoriedade de todas as coisas são apenas a forma sob a qual o desejo de viver — que, como coisa-em-si, é imperecível — revelou ao Tempo a futilidade de seus esforços; é o agente pelo qual, a todo o momento, todas as coisas em nossas mãos tornam-se nada e, portanto, perdem todo seu verdadeiro valor.”
(Shopenhauer: o vazio da existência)

II

Ao Cair da noite e quando escurece Paris muda de cor e sentidos... Estou num taxi que corre pela margem do Sena e abaixei o vidro para poder fumar.Num instante estarei sentada em algum lugar como Avenue, o Hotel Costes o Maison,Blanche , Nobu, Xu Tanja, no stresa, ou ainda no Plaza: vou jantar um folheado de carangueijo e, é claro um vinho suave, ou então não janto e bebo Cosmos, ou uma vodca pura, fumando um cigarro atrás do outro e dizendo " como vai" às pessoas...

III

Luz ascende. Um abajur, uma cadeira, uma mesa de madeira roupas jogadas no chão a atriz ascende um cigarro, troca de roupa , se olha, num espelho invisível, não gosta da roupa, deixa o cigarro no cinzeiro trocou de roupa de novo, fumou mais, se olhou no espelho. A música eletrônica francesa moderna para e a atriz fala. Fala um longo texto e a platéia vai ao delírio.
A fala basicamente é sobre como a personagem é rica, fútil, consumista, e como a platéia é pobre, feia e medíocre. E a platéia ri loucamente dessa velha piada tão explorada por personagens de humor da TV.

IV
Hipoteses critícas:
1- Sempre que houver cena no quarto da Hell a platéia vai rir. E vai rir não só quando ela disser qual a marca da sua roupa. Só de a atriz tocar no cabelo, ou tocar numa roupa a platéia louca pra ser chamada de pobre, burro, feio vai rir.
2- O Blecaute vai percorrer toda a encenação.
3- Toda a gestualidade que atriz construiu para a personagem parece ser inspirada nas poses de um ensaio de moda da revista Vogue
4- A encenação soa datada, falando de um lugar, de pessoas, que muito distante e desinteressante. Essa cena apesar de provocar o riso e a simpatia da grande maioria dos espectadores demarca a distancia que existe entre o universo rico Frances e o nosso – pobre feio e medíocre.
5- A peça fala de jovens que buscam nas drogas, no sexo e no consumismo a fuga para o vazio.
6- Esse vazio é exteriorizado em um palco quase nu na penumbra ou na escuridão total onde os personagem se movem. Interessante é a construção gestual que remete a pose de modelos em ensaios fotográficos da revista vogue.
7- Os únicos lugares em que a iluminação é forte são quando a personagem Hell vai consumir ou encontra algum cara que mexa realmente com ela. Ai um painel ilumina e são sempre cores fortes.