terça-feira, 21 de dezembro de 2010
O meu drama não se realiza mais blá blá blá e mais além
Cada pessoa do público recebe uma chave num cordão vermelho (que serve de ingresso), ainda na frente do teatro Sacolão das artes no Parque Santo Antônio - sacolão hortifrutigranjeiro desativado que é sede da Brava Cia. Somos convidados por uma atriz com peruca loira [ figura exótica típica do teatro contemporâneo ] a dar uma volta pelo quarteirão: "Se tá comigo cola, mas bem juntinho - que isso aqui não é teatro de destaque, não quero destaque. Quem saiu de casa achando que ia sentar a bunda no teatro pra ver uma pecinha tá muito enganado". Paramos no portão do estacionamento de uma delegacia, a atriz pede ajuda do público pra colar um cartaz com uma frase de efeito que incita à revolução, uns policiais olham desconfiados. Outros cartazes são colados no trajeto.
Voltamos pro teatro, os três atores se acomodam num cenário apartamento-gaiola pós apocalipse - QG/Aparelho onde covardemente escondidos eles planejam impotentes a revolução. Tudo bastante metafórico. Eles se dirigem uns aos outros pelos seus nomes reais fora de cena: Marcelo, Mariana e Patrícia. Não chega a se formar um conflito, nem historinha, nem personagens. Os três estão ali organizando um discurso a eles comum de forma cênica e poética, usando seus depoimentos pessoais e os textos do Heiner Muller.
O título "QUEM NÃO SABE MAIS QUEM É, O QUE É E ONDE ESTÁ PRECISA SE MEXER" parece se referir a uma geração específica, em seu contexto socio-político de utopias, sua desilusão e acomodação posteriores; também a qualquer cidadão diante da dificuldade de se reconhecer como parte-agente integrada a determinada classe social; também como denúncia à alienação; também ao próprio drama teatral que não se realiza mais. E talvez seja um espetáculo importante na medida em que nos provoca a reflexão sobre a necessidade do novo, da investigação de novos lugares possíveis.
PS -
QUEM: Um senhor sentado na mesma fileira que eu
O QUE: estava bastante entediado durante o espetáculo, mas assistiu até o fim
ONDE ESTÁ: no parque Santo Antônio, ele é morador da região
PRECISA SE MEXER?: O fomento (entre outras iniciativas, como o trabalho de resistência da Brava Cia) permite(m) que existam espaços teatrais como este na periferia. Mas o trabalho de "formação de público" é sempre um desafio. O tédio e desinteresse do tal senhor reafirma o que está em cena, a impotência de todo um movimento politizado de teatro de grupo diante das ferramentas de democratização de acesso a cultura pelas quais lutam.
QUEM NÃO SABE MAIS QUEM É, O QUE É E ONDE ESTÁ PRECISA SE MEXER
Site da Cia São Jorge: http://www.ciasaojorge.com.br/quem.html
sábado, 18 de dezembro de 2010
Entre(intensões) e contenções: pequena mostra de dança contemporanea
O solo tem uma estranheza que é muito interessante. O espaço totalmente vazio, um desenho de luz que cria uma espécie de desvelamento revelando aos poucos as nuance, e as possibilidades que uma partitura de ação simples pode chegar na repetição até a exaustão.
O solo tem um movimento cíclico, uma bela canção que é repetida em volume progressivamente mais auto. Outra coisa que me agrada muito no solo é que o movimento, os gestos não são cadentes e harmônicos, mas também não são mecânicos. Toda a gestualidade está num lugar entre ação física e dança, e várias vezes é desconecto da musica o que potencializa a estranheza dos movimentos.
O que não é uma coisa incomum na dança contemporânea, né?
Pequena mostra de solos: http://www.salacrisantempo.com.br/home/
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Vozes Dissonantes
O espetáculo aborda expressões de filósofos, estetas, políticos, poetas, de figuras como Padre Antônio Vieira se manifestando contra a escravatura, passando por análise do papel de Tiradentes, manifestações de José Bonifácio, idéias de Milton Santos e outros que nos inspiram com sua coragem autoral a criação de novos rumos para uma sociedade ainda tão jovem e plena de futuro. Espetáculo otimista porque acredita na ação, e reflexivo porque vasculha nossos momentos libertários e as vozes que os promulgaram, sempre com vistas em proporcionar fortalecimento de atitudes responsáveis e de transformação.
2- A voz da critica oficial:A expressão corporal de D.S. é impressionante, cada vez mais impressionante, de tal modo ela se movimenta em “acrobacias” e expressões faciais, chamando a atenção de forma irônica/brincalhona para todos os períodos de nossa formação histórica, lembrando Gregório, Vieira, Castro Alves, o índio, o negro, chegando aos dias atuais. Diga-se que o espetáculo começa com uma leitura de João Cabral.
Em prodigiosos exercícios de contração/descontração, expressão facial, uso das mãos que impressionam mais que um Marcel Marceau, apontando o caminho que pode conduzir ao desespero do não ser pela impossibilidade de entregar-se àquilo que se poderia ser: o dia-a-dia corrido, sem espaço para o diálogo, o amor, a realização pessoal. (realise oficial)
Algumas (vozes) crítica dissonante:Ei, alguém precisa dizer a ela que as coisas mudaram, tipo: o cara que tá com a faixa agora só não repetiu “esqueçam o que eu escrevi” porque ele nunca escreveu nada, mas bem que poderia dizer: “esqueçam quem eu fui” .As novidades, Denise, não param por aí. Desculpa, mas eu tenho mais recados do século XXI, já que você insiste em ficar no século passado. Sua peça no máximo vai até Lamarca, né? Aí é fácil brincar de polícia e ladrão, o ladrão usava farda. Quero ver agora, que emboloaram o jogo e trocaram o figurino dos dois lados. ( revista Bacante)
Critica oficial diz:
Denise acredita nisto, que pela arte se pode chegar a uma compreensão dos nossos conflitos, sem atribuir a “forças ocultas” nossa impossibilidade humana de viver em plenitude.Nosso fracasso é a vitória da verdade sobre a não-verdade, do amor sobre a cólera, da união sobre a fragmentação.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Mary Stuart
Teatro essencial é aquele em que o ator é o autor e diretor e coreografo de si mesmo. Seu instrumento é o corpo. Com o corpo ele desenha o espaço com sua voz ele mostra o afeto do personagem e com o seu afeto, sua memória e sua intuição ele constrói a dramaturgia, ou seja, ele une a voz e o pensamento. Seus temas serão sempre da natureza humana, universais inadiáveis, daí, político. A intenção é que o publico saia do teatro revigorado em suas lutas por liberdade e amor afinal é para isso que estamos aqui. O performer essencial será sempre político não importa a ele nada que na finalidade não signifique: possibilidade de convite ao questionamento, reflexão, ação e transformação. (Denise Stoklos)
Mary Stuart, Conta de forma não linear os últimos dias da rainha Mary Stuart, que ficou presa por 40 anos e foi condenada à morte por sua prima Elizabeth.
A estrutura da peça a cria ponte com a história recente do Brasil explicitando o tema que provocou a montagem: Como o poder está presente e opera na vida do individuo.
Com uma precisão necessária para que possa acontecer e que me chamou muito atenção, a palavra o gesto a cadeira (que é o único objeto de cena) mais os recursos de luz e som são precisamente manipulados privilegiando o jogo e o envolvimento com o espectador. Outra coisa que é interessante na montagem é uso da metalinguagem que fortalece o jogo com o espectador.
Aliás, a reação que o espetáculo causa no espectador é algo que deve ser lembrado pq fazia tempo que não via o publico tão envolvido no espetáculo a ponto de reagir a determinadas cenas com aplausos quase catárticos.
Serviço:
Sexta e sábado, às 21h; domingo, às 20h - Ingressos: R$20,00 (retirada de ingressos: duas horas antes de cada sessão) - preço popular (retirada de apenas um ingresso por pessoa): todos os dias para 20% da lotação da sala (R$ 2,55) mediante a apresentação da Carteira de Baixa Renda e RG, conforme lei nº 11.357/93 - Espaço Cênico Ademar Guerra (200 lugares)
domingo, 28 de novembro de 2010
O lugar de onde se vê Roberto Zucco
Teatro é uma palavra grega que significa: o lugar de onde se vê. Partindo dessa primeira afirmação etimológica início essa critica de Roberto Zucco levantando uma questão: O quanto o lugar onde eu escolho pra apresentar a minha peça influencia e interfere nas minhas escolhas estéticas?
O Satyros é bastante lembrando por sua ocupação e revitalização da praça rosoovelt e o coletivo de galochas é um coletivo formado por estudantes de artes Cênicas da USP.
Como esses dois lugares e experiências contaminam a cena?
Na montagem do Satyros a ocupação da sala de espetáculo foi construída de modo que houvesse cenas em vários lugares. Já na montagem da Cia de galochas as cenas saem do teatro e ocupa a praça do relógio em ambas as montagens têm uma coisa de trajetória que o público percorre. No Satyros o publico sentado numa arquibancada que é empurrada por atores e no coletivo de galochas você percorre um trajeto. Outro ponto comum nas duas montagens é um trabalho de ator que tá apontado, mas se dispersa no meio do espetáculo.
O coletivo de galocha radicaliza justamente no ponto em que o Satyros é convencional: na contaminação do texto pelo espaço, criando metáforas, símbolos, signos que vão do contemporâneo convencional (uso de vídeo, projeções, varias referencias estáticas na interpretação e de conceitos, nomes, palavras que são confusos e alvo de debates infinitos) E discutindo poeticamente questões que são inadiáveis no fazer teatral de ambos os coletivos fazendo assim com que o fazer teatral seja mais do que discutir sintomas de um momento histórico e passe a ser um dialogo, uma afronta ao momento este momento histórico.
domingo, 21 de novembro de 2010
Dizer e não pedir segredo
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
PONTO FINAL DA ÚLTIMA CENA NA CENA PERIFÉRICA
OBS: Antes assisti parte da apresentação de um grupo da região, o Saída de Emergência. Cujo elenco é juvenil, e as coreografias se resumem à exibição de técnica vazia e a uma dramaturgia inconsistente. O discurso colocado em cena não pertence aos bailarinos. Aliás, esse é um problema comum a muitos grupos amadores (de teatro e de dança) né. Quando os intérpretes ainda estão buscando um domínio do instrumental técnico e não se apropriaram do processo de criação.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Este Lado Para Cima – Isso Não é um Espetáculo.
Dialogando com o sub-titulo do espetaculo da brava decidi que essa critica não iria ser uma critica. Mas uma tentativa de organizar as minhas impressões e sensações vivenciadas nos 80 minutos de espetáculo
Este Lado Para Cima – Isso Não é um Espetáculo. A nova montagem da Brava Companhia apresentada na mostra de teatro do Engenho nos dias 13 e 14 de novembro de 2010.
Este Lado Para Cima – Isso Não é um Espetáculo:
O poder do mercado de consumo, o controle da vida pela mercadoria, as contradições nas relações de trabalho e o uso das estruturas autoritárias como ferramentas de alienação são trazidos à tona na peça.
Tudo está em movimento
É o movimento que gera ação e ação é vida!
Drama é uma palavra grega que significa ação
E tudo que é vivo tem história
Pra saber a história das coisas basta você procurar, investigar, descobrir
O movimento da história é ciclico
Impulso gera movimento que gera ação e ação é vida!
E a história tá ai pra dar sentido a esse movimento
Atribuir sentido as coisas é perigoso. O perigo é que a busca pelo sentido
Naturalize as coisas, reduzindo a contradição, o movimento e o impulso em uma sentença lingüística.
sábado, 13 de novembro de 2010
o contemporâneo não exige muito
Quinta-feira à noite na famigerada Praça Roosevelt. O Satyros I praticamente lotado para a apresentação do espetáculo mais recente do grupo (que recebeu ótimas críticas): Roberto Zucco.
A encenação é super contemporânea e traz o texto de um autor francês sobre um assassino italiano que matou pai e mãe, tudo num universo bem marginal - escolha coerente com o histórico do Satyros. Existe um tom expressionista, a inocência é uma impossibilidade, e o mal parece estar atrelado ao humano. O vazio e a necessidade/impossibilidade de dar sentido a existência parecem motivar todas as ações: os crimes de Zucco, a excitação do coro patético de transeuntes no parque, o desejo da Madame que flerta e tem o filho morto, a moça que se agarra à virgindade da irmã mais nova como tentativa de redenção... No entanto, a abordagem soa em muitos momentos superficial.
Existe a proposta de uma relação mais estreita com o público*, que é acomodado em duas arquibancadas que estão em frequente movimento entre as cenas. Se a intenção é atingir a sensibilidade do público (o organismo, o sistema nervoso, como tão bem descreveu e sonhou Artaud), eles deveriam se servir de todos os meios... Não só dessa proximidade, mobilidade, do uso do vídeo, da utilização de todo o espaço. Falta um trabalho mais sério de ator né. Mas se a intenção é reafirmar o grupo no lugar comum do contemporâneo, eles conseguem.
* (que o próprio espaço sugere e que foi investigada na última peça deles com a idéia de 'teatro expandido')
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Roberto Zucco
Personagens:
Constantino: Crítico de teatro
Tom: Jovem ator em formação que trabalha como garçom pra pagar seus estudos.
Ação: O encontro entre o jovem ator e o critico acontece no bar onde Tom trabalha após a apresentação de Roberto Zucco.
1º Constantino bebe um café enquanto lê em seu ipod os comentários feitos no twitter sobre o espetáculo:
Constantino:
O espetaculo aponta para a uma fase madura do Satyros é comum ler criticas comentado sobre a inovação e a radicalidade de roberto Zucco, mas não se engane.. Não há nada de novo em Roberto Zucco.
Tom:
Não?
Constantino:
Talvez essa impressão seja causada porque com roberto zucco os satyros se conectou de vez ao seu tempo ( e a uma teatralidade que talvez podemos chamar "oficial" ou seja um teatro que estará nos livros de hist do teatro daqui a uns anos)Tempo em que o uso do audiovisual, das redes sociais , a mistura de linguagens no registro da interpretação caracteriza a teatralidade desse inicio de sec. Saindo de uma margilidade que sempre delimitou o trabalho do grupo.
Tom:
entendi .
Constantino:
A conta,por favor
Tom:
Já?
constantino:
Ta tarde.
Tom vai buscar a conta e volta com o programa do espetáculo
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Não uma pessoa ou Lamentações de uma mulher-objeto
A atriz, que é personagem de si mesma, expõe sua fragilidade (tão bem escondida pela imagem de mulher fatal) ao seu psicanalista. A peça não tem pretensões biográficas, mas usa a vida de Marilyn Monroe para propor uma reflexão sensível sobre a coisificação do humano e a condição feminina.
Um bom texto e uma relação orgânicamente bem construída entre cena e público. É, teatro ainda pode ser simples.
Não Uma Pessoa
De 6 de novembro a 19 de dezembro, aos sábados ás 21h e domingos às 20h
Miniteatro
Praça Franklin Roosevelt, 108 – Consolação
Informações 3255-0829
Ingressos custam R$ 20 com meia-entrada
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Guerra Cega Simplex- Feche os olhos e voe ou guerra malvada
Experiência artística. Como na utopia dos críticos de arte do romantismo (Novalis, os irmãos Schlegel) -, aproximam-se perigosamente da arte. Momentos em que a fronteira entre crítica e produção artística se rompe, quando a ironia é sutil, quando o humor é escrachado, quando a forma do texto reproduz a experiência estética sugerida pela forma da peça.
(...) Não é outra a definição que os românticos alemães davam ao que eles chamavam de ENSAIO, um gênero híbrido entre arte e filosofia, capaz de tatear o objeto artístico e iluminá-lo sob todos os ângulos, – de dentro de um olhar também ele artístico- , revelando suas contradições e situando os seus procedimentos formais em estrita relação com o mundo que os gera.
domingo, 31 de outubro de 2010
Chuva Pasmada
A caixa idiota é nome desse episódio( que eu consegui baixar e postar aqui graças a um esforço e persistência quase cristã) Esse episódio eu sempre achei que é meio a síntese do que é teatro. Existe um espaço (que inclusive pode ser uma caixa) que você preenche com a imaginação, o jogo e a brincadeira.
Mas para dar certo é preciso acreditar na brincadeira e no jogo ,né?
A caixa mágica de "chuvinha pasmada" :
Espaço vazio conceito empregado por Peter Brook para designar, em termos visuais, a característica por ele eleita para definição do espaço cênico. É um espaço psicologicamente concentrado, recaindo a atenção do público no desempenho e intenções explícitas (ações determinadas) ou implícitas (secretas ânsias e vinganças) das personagens. É também, por outro lado, um espaço aberto, intemporal, não datado, onde tudo pode acontecer…
O ponto de partida é o vazio
Um cenário nu, a-histórico, sem referências explícitas. São os atores, usando a excelência do gesto, do olhar e sentindo o que as palavras designam, que criam o cenário
Desse espaço vazio onde a imaginação frui em gestos que viram imagens e palavras de imagens e imagens das palavras.
É desse espaço vazio que “chuva pasmada” espetáculo do grupo Matula de teatro parte.
Preenchendo espaços vazios, abrindo fendas poéticas de forma sensível e critica.
CHUVA PASMADA
SESC Pompeia
Dia(s) 22/10, 23/10, 24/10, 29/10, 30/10, 05/11, 06/11, 07/11, 12/11, 13/11, 14/11
Sextas e sábados, às 21h; domingos, às 18h
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Outros justos
Em uma sala de aula imaginária, um velho professor tenta ministrar sua última aula em memória de seu melhor amigo, um intelectual que faleceu durante os anos do nazismo.
Na bilheteria da Casa das Rosas a mulher super simpática está contando ingressos quando eu, Sueli e Diego nos aproximamos. Ela entrega os ingressos com um sorriso e comenta que a peça não tem tido muita procura, mas toda apresentação duas três pessoas vão embora sem conseguir ingresso. Por quê? Descobrirei logo, logo. A casa das rosas é um espaço alternativo e cabem não mais que vinte pessoas.
Entramos numa salinha.Como não tenho informações sobre a peça olho atenciosamente o espaço, não há objetos cênicos que tenham sido trazidos pela encenação. O abajur, a mesa, o gravador, a cadeira são objetos da casa das rosas.
Também não há sinais, nem a moça ou o moço eletrônico que pede para desligar os celulares e não consumirem alimentos, nem tirar fotos ou gravar o espetáculo sem a autorização da produção. 10 minutos passam e um clima misterioso se instaura. 15 minutos depois um homem entra na sala. Não há nada nesse homem que indique que seja um ator, ele pára, olha pra platéia, olha o relógio longamente e sai da sala.
Pronto a peça começou.
Carlos Rahal criou uma partitura muito precisa de ações, a palavra dita, em cada silêncio pausa, e olhares o ator vai revelando um pouquinho mais do universo desse intelectual, e sua tentativa de falar sobre esse amigo que morreu durante a ditadura militar (e não o nazismo como diz a resenha).
Outro grande feito da encenação é suprimir o nome do amigo e tornar as informações ambíguas possibilitando que a encenação possa acessar o universo dessa última aula de maneira muito sensível e poética.
Outra boa escolha da encenação foi se apropriar do espaço da casa das rosas, o que dá maior veracidade ao espetáculo, já que a casa das rosas é um espaço dedicado a poesia moderna brasileira e onde inclusive acontecem palestras sobre intelectuais naquele mesmo espaço.
Os Outros Justos
Com: Carlos Rahal
Duração: 50 minutos
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos
Texto e direção: Celso Cruz
sábado, 23 de outubro de 2010
Dinheiro público a serviço de.
A VINDA DA FAMÍLIA REAL
Direção: Bruno César Lopes
Elenco: Filipe Brancalião - Tatiana Monte - Thaís Oliveira - Vanessa Rosa
Dias 19 e 20 de novembro, às 16h, na Praça da República.
Informações: 11 5661-6534 / humbalada@terra.com.br
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Helena pede perdão e é esbofeteada
"Helena pede perdão e é esbofeteada" conta a história de Helena e seu marido, Augusto, que têm a casa invadida pela dupla Mary e Jack. Os invasores posteriormente se revelam ativistas políticos e convencem o casal a fazer parte de suas ações pseudo-terroristas. Durante as ações extremistas do grupo, Helena é deixada para trás e é expulsa algumas vezes, mas sempre consegue voltar. A atuação do quarteto fracassa completamente, causando o seu rompimento e a troca entre os casais. Helena se aproxima de Jack, de quem tem um filho, e Mary vai embora junto com Augusto, em busca do ex-chefe dele.
No caso específico da telenovela brasileira, embora a estrutura seja mais complexa e as personagens tenham um maior aprofundamento psicológico, nela também estão presentes os mesmos elementos básicos do melodrama: a oposição Bem/Mal, momentos de serenidade, alegria e felicidade alternando-se com outros de aflição, tristeza e desolação - os sentimentos positivos.
O melodrama, adota “uma peculiar linha de progressão, (...) se mantém aberto para incorporar sempre novos desdobramentos telenovela onde o distender da história é uma alternativa à disposição do autor, permitindo-lhe o sobrevir de novos episódios e peripécias, provocando no telespectador a suspeita de que falta muito ainda para acontecer, inquietação irritante para não dizer desesperadora, mas que instiga o seu interesse e o mantém preso diante do televisor.
A encenação do Tablado de Arruá Busca a sobreposição de linguagens, uma televisão instalada na rua permite um recorte de telenovela para o espetáculo. Transmite imagens (captadas ao vivo) apresenta pontos de vista simultâneos da cena que é vista ao vivo como detalhes da expressão dos atores. Para retratar o lado de fora da casa, são utilizados espaços do entorno, como bares, bancos, morros, lagos, na busca de um teatro de rua que lide também com a intervenção e com a utilização de espaços alternativos em geral.
Apoiada pela Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo e pelo prêmio Myriam Muniz, a peça integra o projeto Atentados, cuja pesquisa tem como base a busca por uma linguagem violenta e destrutiva, à altura do dia-a-dia atual numa metrópole como São Paulo e, sobretudo, à altura das ruas, onde a peça será apresentada: “Eu não acho que tenhamos de construir nada. Não é nossa obrigação construir uma compreensão, uma teoria sobre a sociedade atual. O dinheiro da Prefeitura não tem que ser usado de maneira construtiva. Tem uma cláusula na lei, a contrapartida social, que muitas vezes é tomada como um valor social que a obra teria. Às vezes se traduz isso em um sentido em que a obra deveria servir para as pessoas entenderem melhor a sociedade onde elas vivem, algo positivo."
HELENA PEDE PERDÃO E É ESBOFETEADA Reestreia dia 21 de outubro, quinta-feira, às 16h na Praça da Liberdade (atrás do metrô Liberdade). Dia 22 de outubro, sexta-feira, meia-noite, na Rua Vieira de Carvalho (esquina com Praça da República). Temporada - Sextas, na Praça da Liberdade, às 16h, sábados, meia noite, na Rua Vieira de Carvalho (esquina com Praça da República). Até 10 de dezembro. Duração – 60 minutos. Classificação Etária - 14 anos. Telefone para informações: (11) 7363 6226.
sábado, 16 de outubro de 2010
Hell
Não tenho preconceito com atores globais. Mas não falta quem os superestime quando vão vê-los de perto, no palco.
"Hell" tem um ou outro momento cômico. Mas... A cena inicial, em que Bárbara Paz fumando sem parar prova milhões de vestidos, enquanto "esnoba" a platéia, narrando como leva uma vida luxuosa e infinitamente distante de sonhar o que é pertencer a classe média, fazer dívidas a prestação, trabalhar. Se a intenção da cena era ser engraçada, não funcionou (apesar da "generosidade" do público - pra não definir como burrice ou escapismo barato - a predisposição para rir com que as pessoas vão ao teatro). A atriz devia ter aprendido com a dama maior dos nossos palcos. Mas se a cena serve só para nos fazer penetrar nesse universo degradante consumista de frivolidades, baladas, álcool, sexo e drogas em que Hell vive - atinge até certo grau seu objetivo.
A peça é uma narrativa seca, na maior parte do tempo distanciada, que sai da boca da protagonista, transpassada ali e aqui por algumas pequenas, repetitivas (como os cigarros que não saem de cena e o troca-troca de roupas), mas potentes ações. O jogo narrativa/ação é bem construído. Por se tratar quase de um monólogo, o abuso do blecaute (apesar da iluminação ser bem cuidada, criando o tempo todo um ambiente sombrio) e da música, torna as transições de cena um pouco cansativas.
Belas e surpreendentemente poéticas são as cenas em que Hell e Andrea (Ricardo Tozzi) transam pela primeira vez; e a cena em que a rica menina narra para um michê com quem está transando o enredo da ópera La Traviata.
O vazio e a descrença da personagem na vida, fazem com que ela desenvolva uma moral muito própria e oposta a tudo que os valores familiares e religiosos ensinam (até certo ponto, como disse esse crítico aqui).
É curioso ouvir as idéias diferentes que a Bárbara Paz e o diretor Hector Babenco mostram ter sobre as motivações da montagem. Cá pra nós, a peça não parece ter sido motivada por grandes inquietações/necessidades de ninguém, mas tem lá seus méritos.
Espetáculo assistido dia 15/10/2010 na companhia do Henrique.
Adaptação: Hector Babenco e Marco Antonio Braz
Avenida Paulista, 1313 – Metrô Trianon-Masp
Quinta-feira a domingo - 20h
PORQUE ALÉM DE RYCA, EU SOU DIABÓLICA.
I
“Vazio encontra sua expressão em toda forma de existência, na infinitude do Tempo e Espaço em oposição à finitude do indivíduo em ambos; no fugaz presente como a única forma de existência real; na dependência e relatividade de todas coisas; em constantemente se Tornar sem Ser; em continuamente desejar sem ser satisfeito; na longa batalha que constitui a história da vida, onde todo esforço é contrariado por dificuldades, até que a vitória seja conquistada. O Tempo e a transitoriedade de todas as coisas são apenas a forma sob a qual o desejo de viver — que, como coisa-em-si, é imperecível — revelou ao Tempo a futilidade de seus esforços; é o agente pelo qual, a todo o momento, todas as coisas em nossas mãos tornam-se nada e, portanto, perdem todo seu verdadeiro valor.”
(Shopenhauer: o vazio da existência)
II
Ao Cair da noite e quando escurece Paris muda de cor e sentidos... Estou num taxi que corre pela margem do Sena e abaixei o vidro para poder fumar.Num instante estarei sentada em algum lugar como Avenue, o Hotel Costes o Maison,Blanche , Nobu, Xu Tanja, no stresa, ou ainda no Plaza: vou jantar um folheado de carangueijo e, é claro um vinho suave, ou então não janto e bebo Cosmos, ou uma vodca pura, fumando um cigarro atrás do outro e dizendo " como vai" às pessoas...
III
Luz ascende. Um abajur, uma cadeira, uma mesa de madeira roupas jogadas no chão a atriz ascende um cigarro, troca de roupa , se olha, num espelho invisível, não gosta da roupa, deixa o cigarro no cinzeiro trocou de roupa de novo, fumou mais, se olhou no espelho. A música eletrônica francesa moderna para e a atriz fala. Fala um longo texto e a platéia vai ao delírio.
A fala basicamente é sobre como a personagem é rica, fútil, consumista, e como a platéia é pobre, feia e medíocre. E a platéia ri loucamente dessa velha piada tão explorada por personagens de humor da TV.
IV
Hipoteses critícas:
1- Sempre que houver cena no quarto da Hell a platéia vai rir. E vai rir não só quando ela disser qual a marca da sua roupa. Só de a atriz tocar no cabelo, ou tocar numa roupa a platéia louca pra ser chamada de pobre, burro, feio vai rir.
2- O Blecaute vai percorrer toda a encenação.
3- Toda a gestualidade que atriz construiu para a personagem parece ser inspirada nas poses de um ensaio de moda da revista Vogue
4- A encenação soa datada, falando de um lugar, de pessoas, que muito distante e desinteressante. Essa cena apesar de provocar o riso e a simpatia da grande maioria dos espectadores demarca a distancia que existe entre o universo rico Frances e o nosso – pobre feio e medíocre.
5- A peça fala de jovens que buscam nas drogas, no sexo e no consumismo a fuga para o vazio.
6- Esse vazio é exteriorizado em um palco quase nu na penumbra ou na escuridão total onde os personagem se movem. Interessante é a construção gestual que remete a pose de modelos em ensaios fotográficos da revista vogue.
7- Os únicos lugares em que a iluminação é forte são quando a personagem Hell vai consumir ou encontra algum cara que mexa realmente com ela. Ai um painel ilumina e são sempre cores fortes.